sexta-feira, 26 de abril de 2013

"O som ao redor"



















Muitas camadas de sentidos se sobrepõem no enredo de aparência simples: ressentimentos de classe, violência urbana, culpas, egoísmo, vazio existencial, heranças de exploração coronelista, metáforas diversas. Estréia promissora de Kleber Mendonça Filho. Gosto de saber que ele vem de uma atividade profissional ligada à cinefilia, não-acadêmica, e nem por isso deixa de orquestrar o ritmo, a ambientação e a narrativa com notável habilidade. 

Sutil, contemplativo, delicadamente irônico e sensual. A reunião de condôminos e o desfecho anticlimático e alusivo são momentos especiais. A gradativa apropriação do espaço público pelos seguranças é construída numa engenhosa naturalidade, feito raro nas abordagens cinematográficas de temas atuais e complexos.

Há algo estranho na recepção festiva de certos críticos. Buscando um distanciamento intelectualizado cheio de implicações questionáveis, parecem evitar o corrosivo retrato que o filme propõe dos personagens abonados, insensíveis, rancorosos, paternalistas, entristecidos. Talvez porque se vejam refletidos ali. Talvez ainda porque é mais cômodo fugir para um espaço analítico pretensamente neutro, no qual a erudição substitui a autocrítica.

Não é de hoje que os cineastas pernambucanos formam uma vanguarda sem equivalentes no resto do país. 

Nenhum comentário: