Filas, bagunça, desinformação, congestionamentos
monstruosos, preços inadmissíveis, ameaças de greve e protestos, superfaturamento
e ilegalidades múltiplas, brutalidade policial, grosseria de funcionários. Nada
mobiliza o senso crítico do jornalismo brasileiro, incapaz de cobrir os Jogos Olímpicos britânicos sob os mesmos rigores que reserva aos eventos brasileiros.
Intempéries que no Rio de Janeiro (ou numa capital
administrada por petistas) seriam chamadas de “apagão”, “caos”, “colapso” e outros
substantivos marcantes de uso oportuno, na ilha viraram percalços menores,
compreensíveis, talvez mesmo causados pelas hordas incivilizadas que
teimam em poluir terras tão soberbas com seu terceiro-mundismo feio.
Agora descobrimos que até a prerrogativa muito
básica e individual de escolher as próprias vestes será violada pela patrulha a
serviço dos conglomerados financeiros que monopolizam a festa. Estão proibidas
mensagens políticas, nacionais e comerciais que desagradem os patrocinadores
dos Jogos. As empresas decidem que roupas os espectadores usarão. Não pode vestir
camiseta com a foto do Che Guevara. Mas e a do palhaço Bozo, pode? A da rainha
chupando sorvete?
Os bravos comentaristas tupiniquins, embasbacados
com toda aquela (falsa) assepsia construída a porrete, acham pouco e bom. Seu
comportamento apenas em parte é fruto do fascínio típico dos turistas festivos –
bastante fiel, aliás, ao provincianismo que caracteriza a análise esportiva das
capitais. A fantasia da superioridade gringa, aliada à do nosso fracasso
inexorável, segue também motivações menos lisonjeiras: trata-se de uma espécie
de vingança despeitada contra a realização dos Jogos e da Copa no Brasil,
vitórias políticas de Lula (e do país) que a imprensa oposicionista jamais engoliu.
Entre o ufanismo tolo e a autodepreciação jeca,
talvez sobre algum espaço para a simples fruição do espetáculo.
Um comentário:
Hà dois anos estive no Reino Unido, de férias, e fiquei imensamente desapontada. Vi tanta coisa ruim! Trens atrasados sem explicação, funcionários relapsos e grosseiros, total falta de informação sobre inúmeras coisas. Uma loucura! Achei a maioria das pessoas muito triste, cabisbaixa e desinteressada. Muitas, mas muitas mesmo, apresentavam os dentes (quando os tinham) estragados e sujos. Vi briga de rua, entre dois grupos que pareciam gangues de jovens. Fiquei apavorada! Vi um velho mendigo assediando duas moças orientais no ônibus. Vi gente gritando sem mais nem menos, como se fosse doida! Quase não tinha polícia nas ruas, a bem da verdade, vi apenas duas duplas de policiais, em lugares e horários diferentes. Enfim, confesso que me senti insegura e apreensiva, durante a maior parte do tempo. De outro lado, não resta dúvida de que os parques são lindos, os museus são fantásticos, os teatros têm grandes espetáculos. Mas, não se pode anular uma coisa pela outra. Aqui também temos muitas coisas belas, e muitas mazelas. O que irrita nessa "imprensa" colonizada é a sua incapacidade de ponderar os dois lados.
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