É quase impossível extrair informações confiáveis
sobre as manifestações na imprensa corporativa. Claro, ela inventou a festa,
agora quer inventar os significados da festa. Mas a tentativa de moldar os
fatos chega a soar um tanto ridícula.
Os cálculos esdrúxulos (sete pessoas por metro
quadrado!) não escondem dois fatos visíveis: a) os protestos encolheram e b) mantiveram
a mesma composição étnico-social dos anteriores. Novamente, basta assistir às
imagens disponíveis.
Em março e abril já havia certa sensação de “muito barulho por nada”, mas agora ela domina a memória das passeatas, feito ressaca de vinho ruim. Com aparato
midiático dessa envergadura, até a adesão exagerada pelos oposicionistas parece
frustrante. Se as marchas fossem um produto, considerando o preço e a extensão dos
seus anúncios noticiosos, ele teria o pior custo-benefício per capta da publicidade
universal.
Algo que me intriga no comportamento da coxinhada
é o contraste entre o clima brincalhão e o teor horripilante dos cartazes e
faixas empunhados. Ninguém dá muita bola para estar fazendo propaganda
fascista. Os discursos parecem menos importantes do que o prazer de exibi-los
com criatividade, como em certos eventos populares que representam mortos e
assombrações.
Os protestos vão se estabelecendo como festas
públicas do conservadorismo, onde os adeptos da nova moda podem sair do armário
e soltar as frangas sem o patrulhamento do bom senso e da responsabilidade
histórica. Com o gradativo esvaziamento da agenda golpista, talvez este seja o
prêmio de consolação das suas viúvas: passar vergonha na frente dos outros uma
vez por ano.
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