Publicado no Brasil 247
A cada depoimento novo, o cenário da Lava Jato fica mais constrangedor para a oposição. A imprensa tucana faz algazarra em
torno das menções dos delatores a Dilma e Lula, mas o que vemos é um número
crescente de elos com José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, etc.
Inflado pela mídia corporativa, Sérgio Moro
convenceu-se de que podia criminalizar as maiores empreiteiras do país e ao
mesmo tempo manter o processo focado nos petistas. Mas suas pretensões
exacerbadas são inconciliáveis com o viés seletivo dos inquéritos.
Ao longo dos intermináveis ritos processuais será
impossível desnudar as construtoras sem atingir as doações para candidaturas do PSDB e os contratos no metrô de São Paulo, por exemplo. As
menções a Serra nos emails da Odebrecht (e as canhestras tentativas de
ocultá-las) fornecem um indicativo dos monstros ocultos nesses armários.
Algo parecido amedronta os ministros do STF. Se
tratarem os políticos citados sob critérios menos rigorosos do que usaram no
julgamento do “mensalão”, escancaram o partidarismo de seus votos submissos a
Joaquim Barbosa. Repetindo aquela verve condenatória, precisarão
meter a cúpula oposicionista na cadeia.
Eis o dilema central de Moro e seus asseclas:
quanto mais eficazes forem do ponto de vista jurídico, mais perigosos se tornam
politicamente. O esforço para manter as investigações em certos eixos
convenientes evidencia a preocupação com esses limites. A cronologia usada para o escândalo da Petrobrás fala por si.
E os justiceiros estão certos. A Lava Jato não
sobrevive uma semana se extrapolar os limites da atual base governista. Logo
surgiriam os editoriais pedindo cautela, os protestos da OAB, as admoestações
do CNJ e as interferências das cortes superiores. Prender tucano é coisa que a
boa sociedade não aceita e ponto final.
Talvez se precavendo desses perigos, a alcaguetagem
comandada por Moro teve tantas falhas rudimentares. Grampos ilegais,
vazamentos seletivos e outras esquisitices dificilmente sairão ilesos dos
trâmites processuais. É mesmo previsível que as irregularidades inviabilizem
boa parte das ações, quando não as anularem por completo. Já vimos esse filme
antes, aliás.
A estratégia delatora presume um componente de
barganha que dá sentido muito próprio a deslizes que podem favorecer os réus em
longo prazo. No mínimo insinua que a efetiva punição dos empreiteiros não
configurava o objetivo central dos inquéritos.
Assim compreendemos por que a oposição tenta agravar
logo o desgaste do governo federal. O impeachment selaria a utilidade
partidária do justiciamento de Moro, garantindo a blindagem dos outros
interesses que ele ameaça. Seria um alívio para as próprias defesas, que enfim
sorveriam o desvio da atenção midiática.
O golpe representa uma cortina de fumaça para o vergonhoso
desfecho que a Lava Jato previa desde o início. Além de alvos de um
procedimento político, Dilma e o PT são bodes expiatórios da impunidade dos seus
adversários.
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