terça-feira, 9 de setembro de 2014

A Veja impune

















É tristemente sintomático da natureza ideológica da imprensa brasileira que o “escândalo boca-de-urna” tenha se transformado num hábito previsível. Não apenas esperávamos o surgimento da bomba midiática, mas também conhecíamos dela a natureza e a dinâmica de propagação: um relato na Veja, baseado em terceiros, que os outros veículos tomam por fidedigno, reproduzindo-o sem rigores apurativos.

Talvez por isso a tal “reportagem” da revista ganhe aspecto meio anedótico, diluindo a gravidade do episódio. Mas é importante não subestimá-la. A Veja faz acusações gravíssimas a personalidades públicas, sem apresentar provas, utilizando seu poderio financeiro e logístico para prejudicar adversários políticos nas eleições.

A matéria da Veja não seria aceitável sequer em regimes jurídicos onde o direito à manifestação tivesse amplo e soberano resguardo. Porque não se trata de juízo, versão ou testemunho obtido de maneira legal. É imputação criminosa, com danos irreparáveis à imagem das vítimas, tendo em vista que a proximidade do pleito impediria o trânsito em julgado de qualquer ação reparatória.

O que Veja fez é, no mínimo, crime eleitoral. Os veículos que a repercutem são seus cúmplices. E a omissão do Judiciário é um gesto político.

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