segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A neblina



Se o engavetamento assustador que parou a Imigrantes quinta-feira tivesse ocorrido numa rodovia federal, logo surgiriam análises vomitando acusações ao governo Dilma. O tratamento cuidadoso da imprensa corporativa justifica-se apenas porque as críticas respingariam no sagrado baluarte estadual demotucano. E mais uma vez a natureza torna-se o algoz útil para ocultar a incompetência das autoridades.

É óbvio que faltou um trabalho eficaz de prevenção, tanto da concessionária Ecovias quanto das autoridades policiais. Uma empresa que arrecada escorchantes R$ 40,20 por veículo que vai e volta do litoral tem obrigação de saber como agir durante um fenômeno comum no sistema Anchieta-Imigrantes. Aquele pequeno apocalipse de lataria retorcida, fogo e desespero não coaduna com a imagem de excelência que se propaga acerca das caríssimas estradas paulistas.

O episódio ajuda a recordar outro foco permanente de tragédias evitáveis a cargo da administração Geraldo Alckmin. Trata-se da SP 55, segmento da Rio-Santos gerido pelo DER-SP. No trecho que liga Bertioga a Ubatuba, chamado “rodovia Dr. Manuel Hipólito Rego”, ocorrem atropelamentos quase diários, vitimando ciclistas e pedestres que moram ou trabalham na região. A falta de investimentos, a fiscalização ineficaz (limitada aos condomínios luxuosos) e a imbecilidade dos motoristas transformaram aquilo numa verdadeira roleta russa, que há décadas o Estado finge ignorar.

Sobram espaço físico e recursos para ciclovias, caminhos, passarelas, redutores de velocidade e acostamentos decentes na saturada SP 55. O que não existe, porém, é respeito pelo contribuinte, em especial o de baixa renda, incapaz de sensibilizar as seguradoras, a mídia, o capital que se apropria das terras litorâneas. Realmente, como pregam os conformistas, tudo se resume a uma simples questão de visibilidade.

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